Apólogo

Apólogo

"O velho Torquato dá relevo ao que conta à força de imagens engraçadas ou apólogos. Ontem explica o mal de nossa raça: preguiça de pensar.
E restringindo o asserto à classe agrícola:

- Se o governo agarrase um cento de fazendeiros dos mais ilustres e os trancasse nesta sala, com cem machados naquele canto e uma floresta virgem ali adiante; e se naquele quarto pusesse uma mesa com papel, pena e tintas, e lhes dissesse:
"Ou vocês pensam meia hora naquele papel ou botam abaixo aquela mata", daí cinco minutos cento e um machados pipocavam nas perobas!... "

(Monteiro Lobato - Cidades Mortas)

quarta-feira, 25 de maio de 2016

TRINTA HOMENS

Trinta.
Vinte e nove
Vinte e oito
Vinte e sete
Vinte e seis
Vinte e cinco
Vinte e quatro
Vinte e três
Vinte e dois
Vinte e um
Vinte
Dezenove
Dezoito
Dezessete
Dezesseis
Quinze
Quatorze
Treze
Doze
Onze
Dez
Nove
Oito
Sete
Seis
Cinco
Quatro
Três
Dois
Um
Nenhum.
Eu tiraria todos - um por um - de cima de você neste momento irmã.  Eu limparia seu corpo, tiraria o som dos seus ouvidos, o cheiro deste lugar, as lembranças. Se o tempo voltasse, eu os impediria de terem saído de casa. Todos eles.
Eu desligaria os celulares, os computadores, tiraria baterias dos carros, dos ônibus. Eu faria feitiço, veneno, poção, dor de barriga para todos. Trinta.
Eu te levantaria daí e te levaria pra ver o pôr do Sol no Arpoador, se o mundo girasse ao contrário... Mas o mundo não gira.
Foram Trinta.
Um ex-companheiro e vinte e nove “amigos”. Nenhum deles se compadeceu. Vinte e nove seres humanos toparam se unir à um criminoso.
Trinta.
Trinta e um agora compartilharam. Trinta e dois riram. Trinta e três justificaram. Trinta e quatro se excitaram, trinta e cinco procuram o vídeo neste momento.
Agora o número se torna uma projeção geométrica. A misoginia aparenta infinita, o ódio e o machismo aparentam grandiosos demais. A primeira reação do público masculino em geral é ver o vídeo.
No entanto, quando pensei que fôssemos só nós duas, olhei para o lado e vi três, quatro, cinco. Achegaram-se seis, sete, oito, trinta.
Em segundos fomos noventa, cem, mil, somos milhares por você. Aquele som, aquele cheiro... Queremos que sua memória apague, mana.
E que o mundo nos ouça: “A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA!”. Que ecoe.
Que ecoe: Daqui vocês não passam.  Não passarão.
Que cada uma de nós seja porta voz do ocorrido¹ e que nossas mãos sejam denúncia.
Na violência contra a mulher todas metemos a colher.
DENUNCIE.
No site do Ministério Público, Polícia Federal e disque 180. Mexeu com uma, mexeu com todas.


¹- Em tempo: Acaba de ser noticiado que uma garota “Bia” fora estuprada por 30 homens no RJ. O motivo é vingança do ex namorado, que convidou mais 29 “amigos” para estuprar a vítima. Nenhum se absteve, nenhum deles parou os amigos, nenhum saiu do local, nenhum deles se compadeceu com a vítima (que neste momento está hospitalizada).
Não obstante, filmaram o ocorrido, postaram no twitter e muitos outros homens compartilharam em suas redes sociais, fizeram piada e justificaram o crime.
Em segundos, milhares de mulheres se uniram na tarefa da conscientização de umas às outras, da denúncia formal, via PF, MP e Disque 180.
“O correto, nesses casos, não é denunciar o perfil do divulgador do material pela timeline porque isso ajuda a divulgá-lo. 
Ajudem a denunciar, copiando a URL dos twittes e colando nos locais de denúncia dos sites :
Na ouvidoria no site do Ministério Público do RJ (mprj.mp.br/cidadao/ouvidoria) É importante se identificar.
O Ligue 180 também é um caminho para denunciar.”


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